domingo, 24 de novembro de 2013

Concepção


Te escrevo sem culpa como te escrevi sem medo há meses atrás. E não há espaço para arrependimentos nessas linhas. Também não há mais tempo para subterfúgios. Não posso mais te cultivar com carinho e nem mesmo te afastar com razão. É que te enfeitei tanto que rezar pelo desapego soa como heresia. Não que eu tenha te inventado ou que as belezas que vejo sejam mentiras, mas te exaltei e acabei refém. Assumi a paixão, descobri o peito e me rendi. Te amanheci com claridades e fui tão sincera que me ardeu. Não que minhas expectativas sejam exacerbadas, mas mereço mais e por estar certa disso é que me fartei das suas imprecisões. Não que eu duvide completamente do seu querer, foi nele que pus fé, mas mal posso te ouvir dizer de novo que de um tanto lhe aconteceu. Você não é o único aqui com o coração manchado de desamor e dos dessabores da vida, não é certo rogar pela minha compreensão a cada sinal de insegurança. E lhe ofereci bem mais que compreensão e compartilhei bem mais que o superficial. Estou me libertando da intenção de te fazer permanecer e aceito a minha vontade de não mais querer. E que nos reste a solidez de uma bela amizade e se vingar, que seja eterno o nosso cuidar.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Medo Maior


Eu tenho medo da felicidade. O rosa me enoja, por isso não fantasio o meu mundo com suas nuances. Tudo que é ilusório nos desprende da verdade da vida.  Felicidade extrema é um tom que não combina com a minha pele. Essa alegria inabalável é comodidade, é se conformar com o que esta ao seu alcance, é não querer mais do que lhe é ofertado. Não prego a tristeza – longe de mim toda e qualquer negatividade – mas acuso a felicidade de nos cegar. Ninguém gosta de quem é intensamente feliz, escrevo e rescrevo em letras garrafais, NINGUÉM! Também não estou dizendo que não devemos sentir a felicidade, mas não devemos ser feitos apenas dela. Porque há momentos de indagação na nossa vida, há confrontos desgastantes e há vezes que guerreamos com quem mais amamos em busca da nossa realização.  E é em busca de uma felicidade suprema que enfrentamos os contratempos da nossa caminhada. Enquanto caminho, debocho da vida, porque se não encaramos os reveses como piada, o tempo suga a nossa sanidade e salga o coração com o amargo do desprazer. Quando desejamos conquistar algo, temos medo do fracasso; quando amamos, temos medo do abandono e quando voamos, temos medo da queda. O medo de perder o que se tem já é a garantia de que não se é inteiramente feliz. E Bob Marley que me desculpe pela afronta, mas “o que é realmente nosso” se vai e se acaba, há de ter cuidado e há de ter amor. Positivismo imoderado adocica, mas não nos firma. Tenho medo é de que em nome da felicidade, eu me distancie dos meus sonhos, fuja da minha verdade e viva conforme os padrões da sociedade, porque feliz inteiramente é aquele que não tem que lutar para se afirmar.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Fantasia de não ser

Quando o vi pela primeira vez pensei euforicamente que ele seria a minha doce oportunidade de me pintar diferente aos olhos de alguém. Para ele eu não seria tão bruta, tão chula ou indelicada. Com ele seria doce, quase imaculada, malícia teria no quarto e só, para deixa-lo abobado e refém dos meus cuidados, e ele se perguntaria em qual calcinha profetizei a simpatia de coar o café. Queria que me visse com a alegria delineando os olhos, sorrisos tirando a atenção do batom e mãos suaves sem destino. Com o tempo, me perdi do proposito, me fartei de me ser diante dele, de ser assim tão... nem sei. Mas pensei ter sido boa atriz, quase investi na profissão, até aquele olhar escancarado me entregar a sua própria mentira, a de fingir acreditar para me aproximar e me manter ali, como bem quis. Mal foi pra ele, porque percebi que me queria assim e talvez nem ele tenha percebido a profundidade de querer, mas ele não queria que eu visse e obedeci a seus instintos, me abstive do saber. Deixa esse querer aí, porque quando livre, ele chega a mim.

*Texto inspirado no conto “Além do Ponto” do livro “Morangos Mofados” do Caio Fernando Abreu.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Saber a pouco


Queria que desaprendêssemos de um tanto de malicias. Merecíamos certa inocência juvenil, para que fossemos ingênuos em tentar nos negar e eufóricos na entrega. Mas não há como negar o saber quando se aprende com a dor. Escondo os meus receios da maneira que posso, descubro os seus num descuido ótico. E sorrio para cada defeito seu que chegam as margens, rezando para que percebas que essa perfeição fingida é o que me inibe e me limita. Sinto uma vontade louca de te beijar sempre que vejo seus deslizes escorrendo pelos lábios, para que sinta no meu salivar a excitação pelo que é livre. Já nem sei mais se nos cabe tentar, mas carrego no peito a grandeza do nosso convívio.  Mantenho saudável a nossa perenidade, para te pintar na memoria a luz de outra estação, nos sabores de outras cidades e na descoberta de uma nova canção.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Entre o fim e o adeus


Nós nunca nos despedimos. Não tivemos o último beijo, o sexo de despedida e nenhuma recaída. Decretei o fim, te abandonei em mim e desejei não ter sido tão feliz. Era mais fácil rasgar as fotos e fingir a não existência de promessas e juras, do que admitir para mim o vazio. Tanto tempo tentando te odiar me serviu para reavivar cada pedacinho de você que ficaram guardados na memoria.  Mas, há algum tempo, ando em paz com as lembranças de nós dois. Porém, ainda me atormenta o olhar de encantamento das pessoas quando falam com propriedade do nosso passado, como se o amor fosse tão obvio e transparente, que a nossa eternidade foi decretada por uma torcida. Eu teria chorado a sua ausência todas as manhãs, se a falta que eu sentia de mim não me doesse mais. Vejo-te nesse novo mundo e sinto o orgulho transbordar em sorrisos, porque te desejei tanto o bem, que parece que cada felicidade sua é uma prece minha que foi atendida. Às vezes, me pego falando sozinha, te contando da minha vida, das dores e das feridas. E quando chega a noite, você vem em sonho abraçar minh ‘alma, me contemplando com uma serenidade que eu jamais senti igual.  Não te procuro, não por medo de rejeição, mas pelo pavor da hipótese de você não mais existir nesse corpo. Encontro-te no passado porque lá tenho a fiel certeza que ainda te verei impecavelmente vestido com seu caráter e suas grandezas. Não que o amor tenha perpetuado, mas o revivo a cada desleixo da carência. Acato essa distancia, porque ela é o abismo que separa o que fomos do que deixamos de ser. E eu fico do lado de cá, relembrando nossa historia para mantê-la viva, porque isso reviva a minha fé de que há em mim muito para ser amado. Foi intencional usar o amor sem restrições que me dedicou como esperanças e parece até heresia, perdoe-me, mas ando me agarrando a qualquer crença que me dê tranquilidade. Tranquiliza-te também, minha procura não é por substituição, nossa historia já teve seu fim. Contudo, não há caminhos que nos faça chegar a um adeus, você me diz isso sempre que cruzamos o olhar.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Alvuras



Nunca quis lhe privar dos seus julgamentos sobre mim, mesmo que errôneos, deixei que se fartasse deles. Aceitei de bom grado todas as acusações de superficialidades, elas realmente existem e são o que me mantem sã. Mas lamentei por serem meus defeitos que lhe saltam aos olhos e por sempre estar de prontidão para aponta-los e encará-los como diversão. Relevo as suas definições, porque me calei diante de muitos apontamentos. Não sou de intensidades e profundidades repentinas, por isso sempre apreciei nossa morosidade. Tive todo o cuidado, um respeito quase devoto pelos seus limites e achava bonito quando esbarrava em algum e você sorria como se dissesse “bem vinda”. 

Talvez, por te julgar tão perspicaz, segui disfarçando as obviedades com sorrisos, com um bom humor que lhe ofereço antes mesmo do café da manhã, com uma atenção dedicada ou com as certezas de um olhar fixado. Usei de pequenezas para que meu carinho falasse por mim. Acho que entendimentos encontrados no silêncio são lindos e marcantes pela sua brevidade. Dispus-me a ser inteira e sorria a cada intromissão sua. Cultivei-te em mim para ser bonito, florescer colorido e embelezar as memorias.  

Queria usar de claridades como armas, mas me pareceu apelação, afobação juvenil ou inapropriado para o nosso lance. Apesar de decretar o fim trezentas vezes no mês, permaneço a qualquer sinal de carinho, atenção ou cuidado. Acho que ficou tudo tão perdido e sem sentido, que permanecemos para ver se encontramos algum motivo para o que sentimos. Talvez insista por ver em ti um mar de coisas a desvendar. E talvez desista, porque onde há mar, há tormenta.

quarta-feira, 6 de março de 2013

Viver em par


Seu sorriso chega primeiro, antes mesmo do seu carisma, da sua beleza ou da sua benevolência.  Em toda a vida, não conheci alma mais bonita. Possuis uma grandeza que transborda e respinga em quem o circunda. Brilha sem ofuscar, emana uma energia que domina e motiva. Nós nos entendemos no silencio, no instante de um olhar e até ébrios pela madrugada. Confio-te minha fraqueza e meu pesar, sem ter medo de chorar. Reconhecemo-nos par em tantos momentos que até nos confundimos. Não sei quais voltas à vida teve que dar para nos unir, mas vale por cada momento.  Conhece-me melhor do que ninguém e, mesmo assim, permanece e me dedica um amor sem definições. A gente se tem e essa é a nossa fortaleza. Dono dos meus aplausos mais empolados, o mundo ainda há de te descobrir, porque quem nasce para brilhar não permanece no anonimato. 



PS.: Texto da semana dedicado ao meu amigo Alvaro.